domingo, 3 de julho de 2011

O RELATO DE UM PROFESSOR ACAMPADO

Caros colegas, mais um dia findou aqui no acampamento, vou tentar lhes transmitir um pouco dos fatos ocorridos, inicialmente quero lhes registrar que o acampamento tornou-se ponto de encontro dos companheiros professores, (aproveito para registrar também que as pessoas da cidade estão sendo de grande solidariedade conosco), após o meio dia tivemos pancadas de chuva cíclicas e um frio maroto.
Quando a noite caiu teve inicio uma chuva que não parou, mas a noite nos reservava 2 (duas) boas surpresas que vou socializar com vocês leitores, a primeira trazida por uma companheira que nos colocava a par da notícia que o governador havia marcado uma audiência com o comando de greve para as 17h de domingo (domingo? Será que ele acordou e foi iluminado? Ou se deu conta que a categoria não irá retroceder?).
A segunda foi a presença da Ministra das Relações Institucionais Ideli Salvatti (na minha opinião a segunda mulher mais representativa da política brasileira), quero registrar sua grande simplicidade que mesmo com chuva e frio deu-se ao trabalho de abrir um espaço em sua agenda (que ao contrário da agenda do governador Colombo é bem cheia), e veio nos dar seu apoio (e filar uma linguicinha com pão, que era o que tínhamos no momento para oferecer), foi grande o alvoroço entre os colegas, muitas fotos, pedidos de apoio que a ministra comovendo-se com a situação (que por muitas vezes também em seu passo foi vivenciada por ela) deu-nos o seu depoimento sobre a greve do magistério catarinense.
Este está disponível no link. http://www.youtube.com/watch?v=b7W98PXhovU
Também durante o dia para ocuparmos mais o tempo e a criatividade dos companheiros tratamos de produzir uma mensagem a todos os nossos colegas direto dos acampados, que já esta disponível no Youtube.
Acessem e deixe sua opinião ela é muito importante, nos mande suas paródias, textos, fotos que na medida do possível vamos publicando o material. Quero também agradecer os diversos e-mails de resposta que venho recebendo (to adorando mesmo).
Análise de Contexto, Conjuntura e Reflexos do Movimento do Magistério Catarinense
Percebe-se a contrariedade existente na dinâmica conflitante entre os elementos culturais e econômicos presentes no cenário estadual, que ecoam nos discursos dissonantes em relação a questão da educação e da economia, ao desenvolvimento social e o desenvolvimento econômico.
O que está em cheque no momento não é somente a implantação do piso salarial e do plano de carreira, mas, a valorização da categoria do magistério, a consolidação das fundações estruturais e dos pontos ideológicas balizantes a educação pública de qualidade e consequentemente para a sociedade catarinense.
O movimento pela implantação do piso salarial na carreira está desvelando o sentimento de incapacidade que consumia muitos profissionais do magistério catarinense. A mobilização tirou os professores da sala de aula, da condição de passividade, de apatia e da inercial social, desencadeando movimento articulado e focado na busca da educação pública de qualidade para o estado.
A mobilização trouxe ao centro das discussões sobre educação pública questões que necessitam de reflexões pontuais e que transcendam o espaço dos muros da escola, novamente eclodiram atritos com a gestão das escolas públicas estaduais, que ainda permanecem reféns de políticas paternalistas e nepotistas, que impedem muitas vezes a legitimação da escola como territórios autônomos.
Lutamos para que a renascente identidade do magistério catarinense seja capaz cicatrizar as feridas históricas atenuadas pelo partidarismo e a politicagem na distribuição de cargos e direções, que são sem dúvida verdadeiros cabides de emprego e “tetas” nutridas com dinheiro público que beneficiam inúmeras pessoas, historicamente acabamos por constituir um Estado burocrático, ineficiente e corrupto.
O impacto do movimento do magistério catarinense em 2011 não poderá ser avaliado somente em uma análise das conquistas imediatas, mas, pela sua capacidade de assentar as fundações de um processo de aproximação da escola da verdadeira gestão democrática.
Precisaremos de análises criteriosas no que diz respeito aos avanços, mesmo que os ganhos financeiros sejam poucos (o que particularmente espero que não aconteça), percebo que muitos educadores passaram a entender melhor as leis, a questão política, sindical e social em que estamos inseridos (eu particularmente sim), espero que estes avanços nos ajudem a conquistarmos uma categoria mais unificada e concisa, capaz de colocar o bem comum em primeiro lugar, até mesmo acima de benefícios pessoais. Por muito tempo temos de dialogar sobre este movimento, escrever sobre seu contexto, pois sem duvida entrará para a história como o maior e mais articulado movimento de greve da história (mas está mesma certeza que me leva a acreditar que não será a última).
Estamos criando a identidade do magistério de Santa Catarina, não esqueçamos na história ou seremos lembrados como lutadores ou como covardes!
Professor César Luis Theis

6 comentários:

  1. Ao professor e colega de carreira César Luis:
    Que o governador acorde iluminado não é impossível, pois sei que há muita gente rezando para que ele realmente seja 'tocado'_vamos chamar de iluminação e, rever sua posição até então, frente a lei do piso e toda prova de sacrifícios que os professores heróis de todas as horas, mas em especial dessa hora histórica, emblematicamente simbolizada pela presença de vcs aí acampados na porta da SED. Concordo plenamente com vc no que diz respeito a muitas questões que esta mobilização acabou por reascender na (des)estrutura da educação nacional, que vai da valorização da classe trabalhadora a reforma do currículo. A próxima batalha será convencer a sociedade qdo vierem as cobranças dos dias perdidos, que o mais importante não é a quantidade de dias dentro de salas de aulas, mas a qualidade dessa instrução, atualmente fora dos trilhos da sociedade contemporânea. Por outro lado, percebo que se para termos assegurados os direitos adquiridos de uma lei federal temos que passar frio, dormir fora de casa desconfortavelmente é indicativo de que a educação nos moldes que se apresenta perdeu o significado pra essa sociedade que ai está. Perdoe-me o anonimato, mas a razão é a mesma que me impede de estar ai com vcs nesse acampamento. Convivo com um problema de saúde com uma imunidade abalada. Estou me tratando de uma capsulite no ombro_adquirida no oficio de educador, mas estarei la dentro da sala de aula qdo a greve acabar dando a minha dose de sacrifício para esse país que é trabalhar pela educação pública nas condições de trabalho e recebendo salário que não correspondem a importância dessa profissão. Fico aqui, sendo mais um a rezar para que o governador acorde iluminado pelas forças do bem e acabe não só com a greve, mas com mais esse sacrifício que vocês tem feito pela educação do Brasil. Meu maior desejo é que a sociedade brasileira não leve tanto tempo para discutir o sistema educacional e acabe com esse escândalo social.Sim, por que isso sera visto como escândalo como hoje é olhar pra trás e ver que já fomos uma sociedade escravocata. SAÚDE E PAZ!

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  2. Belíssima reflexão, professor César Luís!
    Certamente, não seremos mais os mesmos professores após esta grande mobilização. Envergonhados deverão estar os "colegas submissos" que continuaram em sala de aula "fazendo de conta" que estão certos e cumpridores de seus deveres, em contrapartida não lutam pelos seus já declarados e justificados direitos.
    Força e fé, é o que nos move ao bem comum.

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  3. http://www.youtube.com/watch?v=ieT8cb6Fndc

    olha as promessas de campanha. Todos os educadores deveriam assistir esse video para se concientizar. Ele fala em valorizar o professor e estabelecer um mérito como forma de remuneração extra....cadê as promessas governador????

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  4. QUERIDOS COLEGAS ACAMPADOS, PARABÉNS PELA MÚSICA E FORÇA, QUE DEUS OS PROTEJA NESTA LUTA, ESTOU MANDANDO MUITAS ENERGIAS POSITIVAS PARA VOCES E PARA O COMANDO QUE ESTA NESTE MOMENTO NAS NEGOCIAÇÕES. ADRIANA DA SILVA - PROFª ACT - CHAPECÓ

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  5. Caríssimos acampados: Só temos muito o que agradecer, pois enqto. estamos aqui no quentinho, vocês bravamente estão à postos. A garra, a luta e a solidariedade dos professores que estão ao relento, comendo mal, só nos orgulha, porque sabemos que a classe ainda não adormeceu - antes - adormeceu e acordou. A luta é justa e mais uma vez descubro que meu voto para Ideli não foi jogado fora. O apoio da Ministra é providencial e mais providencial ainda é agradecer aos acampados, ao SINTE que não esmorece e o mais importante ainda, não se vende às promessas fáceis. Estou orgulhosa de minha classe! Obrigada, colegas que deixaram seus lares, suas famílias para lutar por todos nós. E..."verás que um filho teu não foge à luta".

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  6. Caros colegas acampados vocês são inspiração de força e coragem! Brava gente!

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